Reflexões sobre Os Sofrimentos do Jovem Werther

Faz algum tempo que uma grande amiga me presenteu com Os Sofrimentos do Jovem Werther, do célebre autor alemão Johann Wolfgang von Goethe. Ainda estou a ler o livro, porém gostaria de compartilhar com vocês, duas breves passagens que a mim, muito chamaram a atenção:

"Quando eu era mais nova", disse ela, "nada me agradava a não ser romances. Sabe Deus o quanto me aprazia retirar-me aos domingos. a um cantinho a fim de partilhar, como todo meu coração, das ditas e desditas de uma tal Miss Jenny. Também não nego que esse gênero ainda tenha para mim alguns encantos mas, como hoje me resta tão pouco tempo para chegar aos livros, o que eu ler tem de se adequar inteiramente ao meu gosto."

Goethe escreveu seus livros em finais do século XVIII. No caso do jovem Werther, todos os indícios levam a crer que o personagem principal seja contemporâneo do autor. Nesse trecho, o personagem principal conversa com uma jovem donzela e sua prima. A jovem é quem diz o trecho acima. Percebam assim, como uma personagem do século XVIII, diz não ter tempo para a leitura. Hoje é tão comum ouvirmos jovens dizendo que não tem tempo para ler isso ou aquilo ou fazer isso ou aquilo. Besteira! Ao meu ver, o ser humano sempre busca as mesmas desculpas para justificar uma falha ou um alto-tolimento que ele próprio se impôs. As gerações passadas sempre tiveram mais tempo! Sempre viveram uma melhor época! Sempre foram mais éticas e morais! Desde que o mundo é mundo, o passado é visto como uma época maravilhosa e um presente como um perpétuo desafio.


‎"Nada me incomoda tanto como ver os homens se atormentarem mutuamente, sobretudo quando são jovens e estão à flor da idade e, ao invés de gozar com a maior franqueza as alegrias que a vida proporciona, ficam a deteriorar os poucos dias agradáveis que lhes são reservados com tolices, para só perceberem demasiado tarde como é irreparável tudo o que perderam sem desfrutar".

Essa passagem é interessante não apenas pelo seu conteúodo. Para mim, ela aborda algo que foi tema de um bate boca que tive esse semana com uma pessoa muito querida. Quantas vezes, durante nossas vidas, nós não nos privamos de certos momentos que poderiam ser maravilhosos, apenas para entrarmos em discussões sem sentido, que não nos levarão a qualquer lugar. É a questão de se inflamar, se explodir, por algo que simplesmente não vale a pena. Chega a ser assustador, ver um autor com mais de 200 anos escrever sobre algo que é tão atual. A mim faz ver que, apesar do progresso material e tecnológico, o ser humano pouco evoluiu na sua forma de encontrar e encarar a si e aos seu ambiente ao redor.